domingo, 12 de agosto de 2012

Paixão pela arte faz artistas joinvilenses superarem suas deficiências


O tremular das mãos da plateia, as cores que ganham vida na tela branca e a satisfação de ouvir seus escritos nas vozes de outras pessoas. A recompensa deles é singelamente diferente daquela esperada por outros artistas – aliás, só o fato de produzir arte já é uma vitória para quem poderia simplesmente tomar desgosto da vida por causa de suas limitações. Mas foi no teatro, na literatura e na pintura que eles ganharam força para abandonarem a pecha de “coitadinhos” e mostrarem como, na verdade, a deficiência pode estar nos outros.
Aos 19 anos, sendo os últimos cinco de cegueira absoluta, Talita Fernanda Silva Bolduan integra esse grupo de pessoas que mostram como as limitações físicas não impedem a fluidez dos traços, nem afetam a evolução lúdica de seus portadores. No sábado (11), ela estará no relançamento de seu livro "Além do que os Olhos Mostram" – agora, a história criada em sua adolescência também está acessível para aqueles que, como a própria autora, precisam de soluções alternativas para poderem ler. O evento será às 10h na Ajidevi (Associação Joinvilense para Integração dos Deficientes Visuais), na rua Jornalista Hilário Muller, 276.
Além da versão convencional publicada no ano passado pela editora Dialogar, o romance está disponível em audiolivro na Biblioteca Pública e na Ajidevi. Para Talita, motivo de satisfação. “Todos os meus amigos cegos me cobraram. Eles queriam conhecer a história, mas não tinha como, por isso entrei em contato com os ledores voluntários para criar essa nova versão e tornar o livro acessível para todos”, explica.
A leitura sempre fez parte da vida de Talita. Com visão parcial até os 12 anos, a escritora só tinha contato com livros infantis, por causa das letras maiores, e raramente conseguia ler as histórias que realmente gostaria. “Parecia que os outros livros me chamavam. Só depois que tive contato com o braile e com os audiolivros eu descobri que poderia ler muito mais”, lembra.
Na mesma época, tateando no teclado do computador, Talita deu início às suas histórias. E "Além do que os Olhos Mostram" nasceu nessa fase: a trajetória da protagonista Vanusa se assemelha com a rotina da escritora, que apesar disso rechaça a ideia de que o romance é autobiográfico. “São algumas situações que vivi, mas não é minha história”, completa a menina.

Arte para todos
Na sala aos fundos da sede do Cenaic (Centro Nacional Integrado de Cursos), Ademar Cesar mantém desde 2010 o projeto “Arte Eficiente” – e o que começou como uma oficina se tornou uma responsabilidade. “Como artista em sempre quis contribuir para a sociedade, então pensei em tornar a arte acessível para quem muitas vezes sofre justamente por causa da falta de acessibilidade”, explica o artista plástico, que ao lado da esposa Jane atende o grupo formado por 27 pessoas.
Entre eles está José Souza dos Santos, 43 anos. Há uma década, durante um mergulho no rio Piraí, ele sofreu um acidente e ficou tetraplégico – ou “tetracampeão”, como define. A retomada de algumas atividades da vida aconteceu por causa do “Arte Eficiente”: hoje, além de criar suas telas com o pincel colocado na boca, José voltou a estudar e mantém uma rotina ativa depois de descobrir novas habilidades. “Pra mim, vir aqui tem uma importância muito grande porque a arte me faz sonhar. Antes eu só olhava o tempo passar, hoje quero produzir cada vez mais”, comemora.
Para Ademar, o sucesso do “Arte Eficiente” se dá nessa reintegração de quem muitas vezes vive na inércia por causa de suas deficiências. “Cada integrante novo que chega é um desafio. É preciso conhecer a história de cada um, sua personalidade e suas limitações, para assim a gente buscar opções. Na verdade somos nós que nos adaptamos à realidade dele”, conclui.

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