domingo, 12 de agosto de 2012

Guitarrista Celso Blues Boy morre em Joinville


Morreu Celso Blues Boy. Referência obrigatória para os bluseiros do país, o cantor, compositor e guitarrista saiu de cena na manhã de hoje depois de lutar contra um câncer na garganta. A notícia pegou de susto amigos e companheiros de palco - a pedido da família, o corpo foi levado para Blumenau e cremado sem tempo para grandes despedidas. Aos fãs, só resta resgatar os CDs e ouvir “Aumenta Que Isso Aí É Rock And Roll” para celebrar o legado do ídolo.
Celso era carioca, mas sua história com Santa Catarina vem de longa data. Na infância morou durante nove anos em Blumenau, depois voltou para o Rio de Janeiro, onde ganhou o mundo como o maior representante do blues no Brasil. Ele chegou a ser eleito pela revista “Backstage” como um dos 20 maiores guitarristas da história, além de dividir o palco com B.B. King e ser convidado para integrar a banda The Commitments (que não aceitou). Já consagrado, veio para Joinville em 1997 e daqui não saiu mais.
Ironicamente, ele próprio reclamava dos poucos shows que fazia pela região. O foco continuava nas apresentações em cidades do eixo Rio-São Paulo – uma das suas últimas aparições foi no início de junho, como atração principal dos 10 anos do Festival de Rio das Ostras. Relatos da imprensa local elogiaram a performance do bluseiro, mesmo com a ressalva da visível debilidade física. E ainda assim o músico não largava o cigarro: chegava a contar para os amigos que recebia convites para tocar no exterior e só não ia porque dificilmente aguentaria dez horas dentro de um avião sem poder fumar.
Celso tinha 56 anos e parecia muito à vontade a lado de uma nova geração do rock e do blues joinvilense. Uma das bandas escolhidas por ele para dividir o palco foi a Karadura Blues Brothers, em meados da década passada, uma parceria que durou quatro anos com constantes trocas de gentilezas: às vezes era Celso quem abrilhantava o show dos garotos, às vezes eram eles quem acompanhavam o veterano nos palcos e nos arranjos de suas composições.
O baixista e vocalista Germano Busch afirma que é impossível contar a história do blues brasileiro sem citar o amigo. “Pra mim, ele foi extremamente importante como músico e como pessoa. Essa é a maior perda da música brasileira nos últimos anos”, lamenta. Germano lembra de um Celso brincalhão, chegado numa boa cerveja e torcedor fanático do Vasco da Gama. “A gente jogava botão juntos, fazia competição pra ver quem achava a melhor e a pior cerveja.”
Nos últimos anos Celso teve a companhia de Marcelo Rizzatti, Parfitt Jim Balsanelli e Rafael Vieira, trio que durante anos formou a banda Os Depira. “Tocar com ele foi um privilégio, fazia parte do blues brasileiro e mundial. Era uma figura e tinha muita história pra contar. Todo mundo sentava pra ouvir ele falando, era quase como uma sala de aula”, cita Parfitt.
Já Marcelo ajudou o ídolo e amigo a gravar algumas faixas de “Por um Monte de Cerveja” (2011), agora o último álbum da carreira de Celso. “É um baita disco e parece que muita gente não deu bola. Quem sabe agora descubram”, avalia. “Ele era meu ídolo desde a adolescência, eu comprava os discos de vinil pra ouvir dez vezes por dia. Depois, eu pude sentir a vibração e o feeling dele ali do lado, no palco”, conclui. (Edson Burg)
Um blueseiro de verdade 
Desde meados dos anos 60, quando Eric Clapton ganhou o apelido de “Deus” por tocar na banda de John Mayall, puristas levantam uma questão: “Um músico branco pode realmente tocar ou cantar blues?”
Celso Blues Boy provou, durante sua carreira irrepreensível, que sim. Elogiado pelo próprio mestre B.B King, que o contratou como músico de apoio em uma turnê, Celso tocava como se tivesse nascido no Mississipi e colhido algodão durante sua infância. Mostrou que as emoções que moveram a música de Robert Johnson e Muddy Water não estavam atreladas a etnia ou geografia.
E Celso teve um desafio muito maior que “branquelas” virtuosos como Eric Clapton e Stevie Ray Vaughan -ele conseguiu sucesso tocando blues no Brasil, onde era o rei absoluto do gênero.
Sempre que qualquer guitarrista brasileiro se aventurar pelo blues, não há como não se inspirar no estilo de Celso, carregado de malícia roqueira. E há professor melhor  - ou feito mais grandioso para um bluseiro - do que alguém que conseguiu ensinar até a B.B. King alguns novos truques? (Rodrigo Schwarz)

Nenhum comentário:

Postar um comentário